©Bruno Simão


Diálogos

de Henrique Furtado Vieira

Este espetáculo é uma espécie de organismo vivo que possui os intérpretes.
Em aparência e no seu discurso verbal, os intérpretes fazem um passeio por Lisboa num dia. Vão tendo conversas banais e partilhando memórias, com as quais vão criando uma arqueologia daquilo que são uns para os outros.
Mas paralelamente à (ou por dentro da) «conversa de chacha», os corpos projetam um espaço imaginário coletivo onde cada zona do corpo é potencial ponto de acoplagem, de criação de interstícios, de espaços visíveis ou invisíveis, sugerindo acontecimentos exteriores a esses corpos, ou até criando um terceiro corpo: um corpo de corpos.
Com a ignição dos corpos, a palavra abre-se à imprevisibilidade. Por um lado torna-se vulnerável ao estado de não correspondência com os gestos, compondo-se um certo desajuste, um desalinhamento incongruente. Por outro lado, a presença da ação sobre a palavra pode revelar, paradoxalmente, não uma divisão ou um corte, mas uma relação simbiótica entre o movimento e o discurso. No encontro com o corpo em movimento, as palavras podem até tornar percetível o impercetível, permitem-nos sermos capazes de ver mentalmente coisas à nossa frente, de conjeturar e de criar novos significados.
A ação do corpo encontra múltiplas formas de organização que põem em vibração a «conversa de chacha», dando assim visibilidade à dimensão sociológica, mas sobretudo existencial, absurda, trágico-cómica, do desempenho performativo que sustentamos na vida de todos os dias, no nosso quotidiano mais trivial. O corpo abre rachas nas palavras e mergulhamos nos abismos, nas fúrias, nos monstros, nos silêncios, nos buracos negros, nas utopias e nas distopias que palpitam dentro destes diálogos que nos parecem querer dizer «está tudo bem».


Apresentado no CCB (Lisboa, PT) e no Teatro Virgínia (Torres Novas, PT), em 2021.


Conceção e direção artística: Henrique Furtado Vieira
Performance e co-criação: Catarina Vieira, Leonor Mendes, Sérgio Diogo Matias
Desenho de luz, espaço cénico e direção técnica: Hugo Coelho – Aldeia da Luz
Desenho de som: João Bento
Figurinos: Rita Álvares Pereira
Assistência de figurinos: Ana Sofia Vicente
Execução de cenário Rita Pico
Apoio dramatúrgico: Joclécio Azevedo
Coordenação e produção: Cátia Mateus
administração: Vítor Alves Brotas | Agência 25
Co-produção: CCB – Centro Cultural de Belém
Co-produção de residência: Espaço do Tempo
Residências e apoios: Forum Dança, O Rumo do Fumo, Pro.dança, Câmara Municipal de Lisboa / Polo Cultural Gaivotas | Boavista
Agradecimentos, Maria Antónia Matias, Marta Ramos, Marta Vieira, Miguel Pereira, Sofia Dias, Tânia Guerreiro, Tiago Barbosa, Tomás Mendes, Vera Mantero, Vítor Roriz
Projeto financiado por: República Portuguesa - Cultura | Direcção-Geral das Artes
Projeto co-financiado por: Garantir Cultura, Compete 2020, Portugal 2020 e União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional – FEDER



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